Baionetas Caladas
Baionetas Caladas
Na verdade, bem silenciosas.
Faziam elas parte de um pequeno engenho,
que eu e minha mulher, papoula branca,
construímos no mês de maio.
Quando ao final das tardinhas
do maio cheio de outono,
íamos então cortar a grama
que vivia em redor de nossa casa.
Saiamos sempre para o sul.
Alguns quilômetros numa trilha,
ceifando os raminhos e talos.
pela meianoite, retornava-mos.
Muitas vezes, como é bem possível,
degolávamos bichinhos nas trilhas.
Era um cigarra ou um caramujo.
mas nosso “Pequege” não permitia
que víssemos ou ouvíssemos nada.
Tínhamos uma maquininha
feita de baionetas caladas
e ela tinha toda a perfeição desejada.
mantinha nosso lar na + perfeita
e higiênica limpeza,
e não sofríamos com nosso sentimento
vendo horrores e sofrimentos alheios.
Se nós sofríamos por nós mesmos.
Eu existia para consola-la
e ela então a mim.
Se esta psico parecer-lhes, amigos.
um tanto desonesta
- como uma bandinha insignificante
que é rejeitada por ser insignificante-,
digo que para mim isso tudo são
as vozes dentro de uma tarde.
Fecha os olhos e escute os sons.
Todos eles...
“Esconda-se e feche os olhos.
Durma, se puder. Ignore a fome.
Ignore as visões.
Ignore o terror e a satisfação.
Você é um homem, não um vampiro.
Você está vivo, não morto.”
J. M. DE MATTEIS (Blood)