Baionetas Caladas

Baionetas Caladas

Na verdade, bem silenciosas.

Faziam elas parte de um pequeno engenho,

que eu e minha mulher, papoula branca,

construímos no mês de maio.

Quando ao final das tardinhas

do maio cheio de outono,

íamos então cortar a grama

que vivia em redor de nossa casa.

Saiamos sempre para o sul.

Alguns quilômetros numa trilha,

ceifando os raminhos e talos.

pela meianoite, retornava-mos.

Muitas vezes, como é bem possível,

degolávamos bichinhos nas trilhas.

Era um cigarra ou um caramujo.

mas nosso “Pequege” não permitia

que víssemos ou ouvíssemos nada.

Tínhamos uma maquininha

feita de baionetas caladas

e ela tinha toda a perfeição desejada.

mantinha nosso lar na + perfeita

e higiênica limpeza,

e não sofríamos com nosso sentimento

vendo horrores e sofrimentos alheios.

Se nós sofríamos por nós mesmos.

Eu existia para consola-la

e ela então a mim.

Se esta psico parecer-lhes, amigos.

um tanto desonesta

- como uma bandinha insignificante

que é rejeitada por ser insignificante-,

digo que para mim isso tudo são

as vozes dentro de uma tarde.

Fecha os olhos e escute os sons.

Todos eles...

“Esconda-se e feche os olhos.

Durma, se puder. Ignore a fome.

Ignore as visões.

Ignore o terror e a satisfação.

Você é um homem, não um vampiro.

Você está vivo, não morto.”

J. M. DE MATTEIS (Blood)

César Piscis
Enviado por César Piscis em 26/02/2009
Código do texto: T1457879
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