Vive uma criança em mim
Diga a mim, meu amigo: “Existe algo pior do que deixar morrer a criança que mora em você?”. Indago-me sempre: “Que se faz à tardinha quando o sol se põe?”. Em meu coração há um botão em festa- batendo asas como a andorinha... e quer voar!
Ele vem assim... Nem bem raia a manhã... Quando chove aqui no meu sertão, ele quer correr na chuva; quer banhar-se das gotas vivas que ficam nas folhas da palmeira... O azul do céu o encanta tão logo cessem as águas das nuvens e desenha flores desarmando o choro de minha alma vespertina!
Como um menino ele vibra pedalando sua bicicleta ao longo do caminho... E sonha com uma casinha ao lado de um riacho; uma janela para o leste; e, bem lá na curva do caminho, uma mangueira carregada de frutos!
Digo a meu coração que ele é poeta: “Você é o guardião das flores de meu castelo!”. De vez em quando ouço uns rumores de vento... da criança que descansa à sombra dos versos!
Há um coral de beijos... A poesia vem sentir a boca da minha emoção. Faminta, minha alma bebe a tarde que mora em mim... E vai satisfeita pela estrada que há entre meus sapatos cansados da lida. Mas eles estão cobertos da lama das flores!
Então, juntinhos, como se coração e criança, fossem um só, banham-se na chuva da vida cantando no fim da tarde!
É assim, amigo, que meu peito abriga a criança que vive em mim...