fagulhas

a noite não cessa e mesmo as abelhas não dormem

há alguma coisa estranha entre as manifestações das horas...

um gosto acreácido de chuva rompendo o ar

ou mesmo uma vontade de fuga do inominável

uma cicatriz agora tem a força de uma grande e pútrida ferida

estou aqui pregada neste chão, os braços distensos e as pernas pendendo em opostos

é a grande marca desta via crucis

um pensamento fixo me detém nesta imolação dantesca...

um girassol se cria em minha boca

e na madrugada eu giro o sol de acordo com a vontade da língua

é a única poética que me permito

vidrinhos de perfumes japoneses e franceses cintilam como purpurinas cegas

turva a visão dá margem a formações vaporosas em filme preto e branco

e me pesa ver as cores fugindo por entre as frestas da janela entreaberta

eu hoje encontrei com o passado e este me empurrou no seu balanço costumeiro

as cinzas-lembranças viraram fagulhas

a ponto de faltar ar e mesmo me levar ao piso frio...

Iva Tai
Enviado por Iva Tai em 22/02/2009
Código do texto: T1451875
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