O BURRICO
Estava eu acabando a cerca,
Que rodeava o aprisco,
Estava uma tarde quente e seca,
Mas com um vento agradável e fresco,
De soslaio, vi dois homens chegando,
Na hora parei o que estava fazendo,
E esperei até eles chegarem andando,
Chegaram cheios de paramentos,
E foram dizendo, depois dos cumprimentos.
Falavam que queriam um momento,
Que o Mestre havia pedido,
Que eu os emprestasse um jumento,
E que logo devolveriam, era um juramento,
Para que Ele pudesse ser servido.
Alguma coisa dentro de mim,
Acendeu como uma faísca,
Olhei para o burrico chinfrim,
E parecia que ele sorria para mim,
Então coloquei nele o cabresto, e emprestei enfim.
Levaram o burrico com carinho,
Sumindo na estrada poeirenta,
Eu voltei aos meus caprichos,
Arrumando a cerca e capinando os carrapichos,
Depois à noite, uma boa sopa e polenta.
No dia seguinte um amigo querido,
Veio trazer o burrico, e me contar o que viu,
Disse que o burrico fez bonito e nem foi ferido,
Carregando o Rei sob o céu azul anil,
Entrou em Jerusalém, sob palmas e ardil.
Comecei a rir da cena imaginada,
Pois só quem entrava assim com festa,
Eram os Centuriões, depois de uma vitória acertada,
Em cavalos alazões e tropa acertada.
Achei engraçado o fato ocorrido,
Imaginava a cara dos ricos,
E dos sacerdotes, que não passavam de velhotes,
Ver um homem entrando na cidade,
Como rei de todos eles, semeando apenas a verdade.
Meu amigo foi embora deixando meu burrico,
Fui ainda rindo, levando ele pra cocheira,
Pensando ainda na cena, falando em sussurro,
Achando que o burro ouviria pela orelha.
Depois de amarrado, dei uma melhor espiada,
E fiquei pasmado com o que vi,
Mas para ter mais certeza, montei com esperteza,
E olhando para ele, quase levei um tombo,
Pois bem havia uma cruz desenhada no lombo.
Ainda o lavei, para tirar a mancha, muitas vezes.
Mas a marca da cruz não saía,
Esfregava forte o pelo, até doía,
Mas a marca ficava por meses.
Nunca mais usei o burrico para o trabalho,
Pois algo tinha, que eu respeitava,
Mas ele sempre saía sozinho de onde estava,
Para sozinho trabalhar na lavoura,
Então entendi o porvir, que o que ele queria, era apenas servir.
By Xandy Carvalho®