O CARPINTEIRO

Sô carpintêru, dus bão.

Ganho quase nada, mas tem muita árvre prantada,

Tiro meu sustento nelas mas num é muito não

Faço poste cadera, mesa, cruiz e armário de madera

Já sô véio iscravo pois nêgo num tem chance não

Se até branco serve os nobre quem diria nóis então

Num anoitecê dum dia, em que a lua saiu junto com o sol

Veio um rapaz me pedi uma urgência, uma cruz por clemência.

Ele era forte garboso, mas os zóios marejado de um choro choroso

Disse pra fazê dipressa, pra evita mais sofrimento, pra corre com aquela peça

Já tava tão calejado de fazê as cruiz, de tamanho e peso diferente

Que nem mesmo já sabia, se morria um culpado ou inocente

Minhas mãos já nem sentia a dureza dos dia

Larguei de mão todo serviço e dei tenência praquele noviço

Peguei minha machadinha, amiga da vida toda, e comecei com ismêro

Tinha feito tantas que decidi, que aquela seria a mais formosa

Cuidei de não lascá muito e não deixá nenhum lamêro

Alisei com carinho, deixei bem mimosa, passando divagar a grosa

Lá pelas madrugada tava pronta bem acabada e limpada

Deixei ela encostada, em pé, pronta pra sê usada

Era bunita que só vendo, fiquei oiando ela pra eu cotinua crendo

Puis todo meu bem quere nela, chorei um pouquinho antes de ir pra cela

Até José, véio amigo de trabaio, ía elogiá só de vê de soslaio,

Aquela cruiz bem feita, que ía servi pra alguém na colheita,

Talveis ele pensasse qui nem eu, uma cruis tão bunita, lustrada com breu

Tão linda de madera achada, mas pena que de sangue vai se manchada.

O garboso infante que na noite di onti, me pediu o trabaio

Chorando ele veio, com dois amigo triste, abraçado no meio

Olho pra cruiz e me dispenso me dando o balaio

Guardei minhas coisa quetinho e fiquei oiando com o coração cheio

Pegaro a cruiz com todo cuidado pois eles viam que tava bunita

Levaro la pra fora com dificuldade porque peso tinha era verdade

Fiquei ali com nó na garganta e cansaço nas anca

Mas fui pro meu lugá, uma cela úmida mas que dava pra enxuga

Num consigui drumi com a gritaria maldosa

Vinha la de fora donde nunca fui, numa casa ruidosa

As pessoa gritava “crucifica!”, quando alguém disse quem vai e quem fica

A algazarra bastante durô , mas chegou uma hora que tudo silenciô

Fiquei gelado dos pe a cabeça, eu iscutava dois som

Um era o arrasta de madeira, que logo reconheci verdadera

O outro era o istala de chicote, que tanto senti no lombo fracote

Fiquei deitado, inculhidim cubertu cum manto, ouvindo o chicote e seu canto

Cada baruio de istalo que ouvia, no meu coração é que doía

Probrezinhu do coitado, levava o chicote atrais e dos lado

Divia ta cansado e chorando, andando devagar e sangrando

I ninguem dizia nada como se o pobre tivesse no peito uma espada

Ia me encoiendo cada veis mais, e aqueles barulho sumindo nos murais

Fico tudo em silencio não ouvia mais, assim peguei no sono com muita paiz

Drumi que até eu istranhei, ja tava de noite com lua azulada quando acordei

Mas num tava numa cela não, tava num quarto bunito arrumado e brilhando o chao

Levantei com cuidado, admito que muito envergonhado...

Nunca tinha durmido em cama, so em chão coberto de lama.

Quando fiquei de pé, ispriguicando e bocejando, vi um home bunito que até,

Tinha nos zoios tão linda Luiz, que só de olha o sol reluiz.

Chegô pertinho de mim, colocando as mão no meu ombro

Sorriu tão gostoso, oiando pra mim, que não dava pra dize nada a não ser sim.

Ele me disse: meu veio, o senhô ta cansado, e eu só quero te dizê obrigado.

Pois morri muito sofrido e nela pendurado, mas com satisfação e serviço completado...

Hoje to aqui, vivendo numa das morada do Pai

Peço toda hora, pra todas as pessoa que ta la fora,

Daqui de cima intercedo aí em baxo, pra um dia talvez sê perdoado.

By Xandy Carvalho®