Saturneo
Sou Saturno monstro
Meus anéis, pra todos mostro
Realeza é não ser denso
Mundo que é mundo,
Vos digo: tenso!
Sou Saturno hoje
Pois amanhã sou pesado d'amor
Com se morrer hoje eu fosse
Como se eu cheirasse a flor!
N'um emisfério sou poesia
Harmonia em letras
Que cutuca no fundo da mente
De quem um dia foi gente,
N'outro, sou amor e saudade
Da terra, dos amigos, da verdade
Da carne, da boca, dos seios
Sou delírio de receios!
Misturo mitologia, astrologia
Misturo sexo, humidade e poesia
Canibalismo às missas de domingo
Milênios dormindo sozinho...
Houve, então, o tempo em que fui quente
Hoje, frio como gente
Era aurora de anéis e escudos
Até que fizeram-me do nada um tudo.
Sou Saturno, monstro de mim
Degustando cada gota até o fim
Minha idade, incontável como de um deus
Minhas tristezas, meus amores?..
Tão sólidos quanto os teus!