Ausência.

Espero por ti e desejo adormecer perpetuamente, para nunca mais acordar. Adormeço sem acordar apenas para o sonho não acabar. Adormeço, para ficar aqui, contigo, para sempre no nosso sonho, perfeito e imutável. Adormeço e espero por ti, pois, fazes-me falta. E sonho, para poder sonhar, para te ter apenas mais uma vez. Fazes-me falta.

Olho para o Mundo translúcido e perfeito. Não vês a luz, não vez a mágoa que por outrora aqui passou. Não vês a saudade, não vês o pesar, apenas o fulgor e o clarão, simplesmente ditosa imensidão. Mas, para mim, não passa de um mundo desterrado, soterrado, vazio, frio e inacabado, sem ti, sem ninguém.

Hoje, nada o mais me dará, nada mais me deixa sequer tentar. Hoje, nem o forte embater de Bóreas sobre as folhas da árvore-da-vida a faz despertar, nem o agressivo "choquear" dos seus ramos que lutam para não quebrar, nem as nuvens cinzentas carregadas de maldições e presságios, nem o bater do teu coração imortal.

Hoje, é difícil viver, ficar, permanecer e lutar. Quero correr, correr para aquela luz tremeluzente e cintilante, para o som que me persegue mas que não consigo alcançar. Cada noite fica mais próximo, mas sempre impossível de alcançar. Segue e persegue-me, como pesadas pedras rolantes que descem a encosta.

Espero por ti. Tal como dormes, tal como te esqueces. Adormeço e sinto que me dizer adeus. Adormeço e acordo com um distinto vazio, uma imagem irreal: desejo-te e esperarei por ti, embora saiba que nunca irás voltar, nunca, nunca. Hoje, fazes-me falta. Sem ti, sou escuridão.