EPITÁFIO INSÓLITO
(POESIA CLICHÊ DE ADOLECENTE)
Lembro bem foi no verão passado mistura mágica e efervescente
cobrindo todo final de tarde o crepúsculo avermelhado do céu o aroma condicionada da vida bares cheios, pessoas em êxtases desejando o chegar da noite clímax do prazer e do contentamento.
foi nesse final de tarde que eu a vi sentada, olhando o mar, mão na mesa com aspecto estranho vaiando a vida sem medo, sem causa, sem fim ou algo por esperar sem cerimônias me auto-convidei, sentei a mesa falando do cortejo de afoxé passando rente a praia.
Lembro do restante da tarde passamos a conversar horas a fio discos, filmes, família, sonho, amigos fitando as vezes os olhos ao mar.
Disse-me que estava indo embora logo no início da noite, não sabia onde chegar "um lugar bom, perseguir estrelas caminhar de braços dado com o vento" disse isso com um leve sorriso ao canto da boca, primeira vez que sorria em toda a tarde que estivemos conversando
perguntei seu nome, pediu papel e caneta percebi que seus olhos brilhavam ainda não os tinha vistos bem era um brilho tão forte que ofuscava o sol deu-me o papel escrito:
"meu nome é Carla
foi bom te conhecer
espero lembrar bem de ti
aonde eu for"
enquanto eu li, levantou-se bruscamente sumindo entre as pessoas da praia percebi que deixava um exame médico em cima da mesa que não ousei abrir nem sei por que fui a praia a procura dela já estava anoitecendo resolvi voltar ao hotel junto a água, chutando a areia pensando que se fora para um lugar bom.
Vai voltar para minha cidade logo cedo pela manhã, deixava o exame no hotel caso o fosse procurar. Retornando ao hotel, entrando no saguão uma multidão se avolumavam junto a um corpo então novamente a vi, agora inerte, prostrada a uma marca, jogava-se da janela de seu quarto a menina que passara a tarde conversando comigo, lançara a própria vida longe de si no início de noite coroada de dor. Coloquei num instante a mão no bolso reli novamente aquelas palavras maldita epifania do destino testamento último a quem ficara valioso demais para mim.
Um para-médico, assim ao canto fumando um cigarro, tranqüilo
dissera que junto ao corpo vestida verde estava a sua mãe paralisada com a cena olhando para o corpo, para a noite, para a vida.
Entreguei o bilhete com o exame médico a ela disse que pertencia a filha e a família saindo confuso do local deixando-a mais confusa ainda escutando um pouco ao longe a reação da mãe (...)
Um ano se passou, e as pessoas contam ao visitar o cemitério da consolação há um epitáfio um tanto enigmático:
"meu nome é Carla
foi bom te conhecer
espero lembrar bem de ti
aonde eu for"