Foi da expectativa pelas estréias que nasceu a primeira insônia.
Povoada por viagens.
Os circos e parques eram montados no "Bairro Alto".
Quando anunciados, começava a ansiedade.
Sabia que os artistas desfilariam pela cidade.
E quando passavam, eu, na varandinha da pequena casa do pé de jabuticaba da minha rua,
não tinha olhos nem ouvidos pra ninguém.
Só enxergava os trapezistas naquelas roupas brilhantes, sorrindo e sorrindo sempre (pra mim).
Alguns animais, os palhaços, o domador, a mulher macaco em sua jaula: tudo era encanto e susto!
A melhor roupinha, fita no cabelo, sapatos boneca...
E lá íamos nós!
Quando a música tocava, anunciando o início do espetáculo,
gostava de olhar o semblante das pessoas.
Alguém me admoestava: - Menina! Olha o circo!
Mas descobri que gostava mesmo era de ver as fadas nos olhos de quem assistia.
Se alguém piscasse ou sorrisse para mim, fugia-me o ar, quase desfalecia.
Alguém estava enxergando... as minhas fadas também!
Palhaços anunciando abraços.
Mágicos mostrando que é verdade tudo o que disseram ser mentira.
Equilibristas desmentindo a lei da gravidade.Trapezistas voadores que me interrompiam a respiração.
 
(Um dia a lona furada aprontou comigo uma falseta.
Deixou que a lua se enfiasse no buraco e seu raio brilhasse, bem na ponta do meu nariz, prometendo que eu partiria com o circo.)

Respeitável Público !!!

... Quando voltava a respirar, o ar que me era concedido tinha gosto de hortelã.

Eram as balas pipper!

 
montagem da ilustração feita com tubes recebidos em grupos de trocas