O último leito

Não há mais o que dizer quando a lágrima teima em correr na face e a única palavra que com muito esforço escapa pela garganta é aquela que jamais pensamos em dizer...

“Adeus!”

Nunca mais verei o brilho dos seus olhos a fitar-me tendo o astro Rei iluminando o seu rosto.

Jamais ganharei um beijo da boca que por tantas vezes me jurou amor eterno.

Não terei mais o conforto dos braços que me afagavam e protegiam-me...

As coisas cotidianas que fazíamos juntos... o cheiro compartilhado do café pela manhã...as confidências....a companhia...o cheiro...o gosto...

Visto agora o luto de minh’alma e olho estarrecida para o seu último leito...

Você, imóvel, parece que a qualquer momento abrirá os olhos e me contemplará com seu doce bom dia...

Seu cheiro ainda paira no ar, misturado ao perfume adocicado das flores do campo...

Ouço ao longe o burburinho das pessoas que me olham com ar de piedade

Incomodo-me. Não quero a companhia da compaixão... Só queria você novamente a meu lado.

Queria dizer tudo aquilo que não pude ou que acabei adiando por um motivo ou outro...queria poder passar mais um domingo a seu lado...

Quisera poder reviver os momentos em que andávamos de mãos dadas sem preocupar-nos se o amanhã existiria...

...mas ainda assim, sem nunca deixar de fazer planos e sonhar!

Vendo-te imóvel, frio, vestindo a roupa que com tanto prazer compramos juntos... Consigo fazer-lhe reviver ao fechar meus olhos e novamente sentir o calor do seu amor...

Recuso-me a dar-lhe adeus!

O máximo que tirará de mim será um “até breve”.

Sua aparente imobilidade quebra-se ao som dos filmes caseiros que fizemos e o silêncio que a morte lhe impõe acaba-se quando, ao deitar-me, na aparente solidão noturna, desejo-lhe boa noite, com a certeza de ouvir sua resposta...

Letícia Cesario
Enviado por Letícia Cesario em 14/02/2009
Reeditado em 20/01/2010
Código do texto: T1438730
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