Uma canção transitória
A transitoriedade da vida que Heráclito tão bem tangenciou na passagem das águas e que os poetas ao longo dos séculos cantaram nos mais variados versos, ainda intriga a humanidade. Por aqui um sujeito que já foi parceiro do “maluco beleza” tornou-se campeão de vendas , trabalhando o futuro como simplesmente o “inevitável” e assim, ganhou o mundo, sendo hoje o autor brasileiro mais traduzido . Paulo Coelho desafiou seus críticos , a tal ponto que , entre todos os escribas nascidos no sul das Américas , só perde em vendas e leitura mundo afora para o vizinho colombiano, Gabriel Garcia Marques . Os conceitos e as idéias empacotadas perdem espaço na transitoriedade da vida . Como cantava o Raul Seixas só mesmo as pedras “dormem tranqüilas no mesmo lugar” . A vida é movimento - movimento intenso - e o futuro que era incerto no senso genial de Heráclito, continua incerto para o homem do terceiro milênio . A sabedoria acumulada nos degraus do tempo , malgrado aperfeiçoada década após década e rompendo os séculos, ao contrário de produzir um mundo melhor está a destruir a essência da humanidade em seus valores individuais e coletivos. O planeta degradado ao extremo clama por socorro , mas os líderes mundiais que manipulam a batuta não cessam suas políticas de destruição e ganância . O mundo, no diapasão da transitoriedade das vidas que o compõem espera por soluções novas , ou como diria Erasmo de Roterdam , por uma loucura que o salve , porque quando a sabedoria gera infelicidade, o transitório clama pelas idéias de um louco. E o papel do poeta é o papel do insano , porque sua arte não pode e não deve se atrelar aos conceitos da ciência e às frias avaliações dos críticos , pois se fosse pela lógica desses gênios tudo estaria resolvido , só que não está, e a propósito, Paulo Coelho não parou e tudo indica não vai parar de fazer sucesso, para alegria de um certo maluco que deve estar cantarolando em algum outro plano da existência uma canção transitória, como esta que vos brindo !