Metafísica

Exponho a teoria da evidência. Descrevo, nomeio - a evidência.

Talvez, talvez vagueasse sem um sentido, sem vontade de encontrar um sentido, aritmético ou físico. Esquecer a metafísica. Delir as certezas na serenidade marítima, as dunas eram simplesmente as dunas por onde deambulava o vento. O crepúsculo orienta o dia, o tempo dissonante para o seu fim, enquanto o silêncio escorre pelos dedos, o ar que cintila até às veias – a orla deste instante. Os jornais não deixarão de falar do quotidiano, a vida numa esquina aguarda a sua oportunidade. Ou a morte. A praia próxima e as aves que se sentem, olhar, mesmo encerrando as pálpebras. Paro, que importa o que existe, que importa o significado do que existe, não pergunto, afirmo. Paralelos ao mar, os barcos deslizam indiferentes. Esquecem a metafísica. Possivelmente, a semântica da luz é apenas a lâmpada que se acende, os candeeiros longilíneos na marginal, o asfalto líquido da chuva, quem vai digerir a solidão ou o amor em cada hora que lhe parece eterna. Pergunto às árvores o que pensam da metafísica, elas erguem-se numa névoa álgida de sombras, nenhuma voz vegetal me esclarece, nem as pedras, o rumor de saibro sob o peso do mundo e os lagos e a relva e o rio ao dobrar as margens. Sobre o horizonte outonal, amanhã vai chover em filamentos rápidos numa paisagem de crateras sem metafísica. Digo por palavras o brilho que emerge dos teus olhos, a única verdade que há para lembrar desse dia de água - desse brilho.

(COMENTÁRIO: Meu amigo, o que é a metafísica? Muito simples, uma obra escrita por Aristóteles depois da "Física". Nada mais há a dizer. Abraços.

Carlos Frazão).