ESTAÇÃO
Fiquei na estação, vendo o trem passar. Nunca tinha feito isso. Adorei.
Repeti, extremamente atento, gostando de estar ali.
Dei-me esse tempo como um carinho merecido.
Acabei descobrindo a linguagem própria dos trens que passam.
É fluida. Uma melopéia de sons repetidos, quase cíclicos.
A intervalos, soam degraus ocasionais que não há nos trilhos.
Depois regressa a melopéia como pano de fundo.
O chão trepida, lembrando passos impacientes.
As carruagens passam arrastando um borrão de cores horizontais.
Do fundo delas surgem brilhos ao acaso, num alarde de instantes.
Janelas afastam-se levando consigo rostos fugazes
Como olhares de vidro contemplando-me em adeus.
Percebo-me refletido sem detalhes, imóvel e intermitente.
Sumo de todas as vezes, num repente.
Depois sobra um ponto vermelho, no alto.
Sorri-me um farol de cauda, que nunca vemos.
Espero ainda mais um trem. Outra vez observo.
Sorrio também, porque não?!
E daí, se chegar atrasado ?
Fev 2009