ESTAÇÃO

Fiquei na estação, vendo o trem passar. Nunca tinha feito isso. Adorei.

Repeti, extremamente atento, gostando de estar ali.

Dei-me esse tempo como um carinho merecido.

Acabei descobrindo a linguagem própria dos trens que passam.

É fluida. Uma melopéia de sons repetidos, quase cíclicos.

A intervalos, soam degraus ocasionais que não há nos trilhos.

Depois regressa a melopéia como pano de fundo.

O chão trepida, lembrando passos impacientes.

As carruagens passam arrastando um borrão de cores horizontais.

Do fundo delas surgem brilhos ao acaso, num alarde de instantes.

Janelas afastam-se levando consigo rostos fugazes

Como olhares de vidro contemplando-me em adeus.

Percebo-me refletido sem detalhes, imóvel e intermitente.

Sumo de todas as vezes, num repente.

Depois sobra um ponto vermelho, no alto.

Sorri-me um farol de cauda, que nunca vemos.

Espero ainda mais um trem. Outra vez observo.

Sorrio também, porque não?!

E daí, se chegar atrasado ?

Fev 2009

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 11/02/2009
Reeditado em 12/02/2009
Código do texto: T1434081
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