Geometria
Era uma vez, destilei o tédio para escapar ao tédio, escrevemos na planície riscos nascidos no ar, onde olhámos e fomos tão alto como as aves. Depois.
Depois, volteava ao som das árvores, o dia estava caindo na névoa e amei o vento na agitação das sombras, se eram sombras ou imagens esvaecidas.
Talvez, inventar a realidade, o mar ao fundo do cenário, não sei, um litoral em que se pudesse ir pela última vez escoar a vida, ou melhor, respirar as nuvens ao cair da tarde.
Sem saber como, apenas sentir os lábios entreabertos na vulnerável pele, percorrida a casa ao anoitecer pela intimidade dos corpos projectada em paredes brancas.
Era uma vez, falara do sentido, das estrelas, os lagos descritos na luz coada, narrei o esquecimento no frio inocente da noite, tu, as tuas asas assediando-me as pálpebras.
Quando, a realidade me inventasse num voo único, perco a noção do espaço, ofereço o tempo aos transeuntes que aguardam mergulhados na melancolia.
Assim, cada friso e linha tornam possível um lugar, certa paisagem cresce pelos olhos, os sentidos obstinados neste instante em que deliro pelo mundo.
Talvez,
a realidade fosse outra.
Voar.