o olhar nasce a cada instante _ ((Fragmentos do poema Daimon))
no mar no céu nas montanhas
na renda das samambaias
bordando de sombras o chão
nas tatuagens da joaninha
no brilho de cada olho
o da menina o do homem e o do cachorro
olhares brincando juntos na piscina
cavada nos rochedos, ao sabor da maré
os peixinhos que ali nadam
vermelhos azuis amarelos
uma arraia de chita
duas tartaruguinhas
conchas listradas, malhadas
e aquele cão negro e manso
sozinho e risonho na praia
parece ser de ninguém
como a beleza errante
que não tem querer nenhum
além de não pertencer:
nem escrava de harém ou bordel
nem diabo amarrado em raiz de gameleira
ou estátua de lava, marca de um tempo findado
ou pedra morta roubada sombreando um coração
fluir correr dormir sonhar
tocar tambor fazer amor
criar crianças brincar de roda
desenhar na areia sem deixar pegada
enquanto o olhar beduíno mergulha e morre
nos intervalos de mar