carta _ homenagem a um amigo poeta, estudioso da língua _ quem o conheceu saberá de quem estou falando...

Elisabeth, minha amiga

escrevo-lhe ainda hoje _ 9.7.96 _ infeliz por não participar da sua banca

não é bom-bonito, não é glorioso, não, isso de reconhecer limites, perder onipotência, assumir o tempo e o espaço, finitudes

a figura da morte ali no fundo do cenário, no dia a dia da gente

escrevo-lhe, então, como catarse

meu livrinho começa a sair da gráfica, vai correr mundo atrás de leitores, cúmplices, comparsas

este exemplar procura VOCÊ

mire, veja: são 10 anos de trabalho, convivendo com Buite, biutices, biuterias

resultou num bloco de contozinhos que me parece até de bom humor, alto astral _ apesar da melancolia, desencatamento, ceticismo, ironia e tristeza geral, sempre latente ou explícita

agora basta de ficção _ articulada ou só destruída, ruínas, cacos, estilhaços

cheguei ao grau zero, ao chão do ser e do narrar: escrevo um diário para o ano 2000

lendas do futuro, claro...

idéia perversa, heim? ano dois mil, pendurado entre séculos, milênios, ambíguo ser/não ser, fechar e reabrir da história, das estórias, experiências, fantasminhas e fantasmaços

você também de tornou amiga do Walter Benjamin? que ótimo...

à sombra de Assombradado vocês dialogam também? maravilhamento...

e os seus textos? sim, compreendo, depois da tese a fonte renascerá, a correspondência vai adensar-se, cruzaremos diálogos, opiniões, teorias, palpites

abraço e amizade sempre

Iuri