prosa poética 1 (Os títulos "prosa poética" são textos antigos, do tempo da máquina de escrever...passei para a internete para compartilhar)
Minha alma adoece meu corpo.
Me trato com um chinês.
Ele queima pontos em mim, com agulhas de combustão.
Como apenas arroz.
Não é violento?
Sim. Mas, é o que me resta, e preciso acreditar.
Não podia sentir, não podia me perdoar.
Não reconhecia meus limites.
O ambiente negativo,
a guerra fria de casa,
o riso barulhento que eu não podia.
Vejo o outro amarrar a cara,
e penso que é por minha causa.
Preciso acreditar.
A dúvida se posso ou não acreditar,
é justamente a ferida.
Tomo o café da manhã com meu filho,
digo para ele:
"Come pão, Israel,
toma leite, pinga café,
olha a manteiga".
Sou filha de uma mãe judia,
sou mãe judia.
Fui missionária e militante.
Fui poderosa,
e me comuniquei com o além.
Quando nas missões,
guardava meus sentimentos no sapato.
Nos meus quatro anos, minha mãe e meu pai viajaram.
Me deixaram com uma institutriz intaliana.
Aprendi a falar o italiano, e desaprendi minha língua materna.
Meu mundo sumiu.
Hoje conheço um pouco meus sentimentos de desamparo,
sei que preciso da couraça,
e que por trás da couraça,
não tenho nada.