Casa Vazia
Dormir sem você é ruim.
Mas não é pior do que acordar sem a sua presença.
Não ao meu lado. Isso eu não sinto. Ainda sou capaz de sentir seu corpo junto ao meu.
Mas o calor... Ah! O calor! Esse já não existe mais. Já não há mais o calor dos corpos que se amam, nem a loucura de estarmos colados um ao outro.
Nunca mais tive a deliciosa sensação de estar com você... em você!
Não a sensação mecânica de dois corpos num ato de “frenesi”, mas sim sentir-me plena em contato com seu sexo... sentir que o amor multiplica-se pelo simples toque...a face ruboriza-se, o corpo estremece, todas as veias parecem querer saltar! Ah... que saudade de sentir-me em descompasso cardíaco!
Não há mais a conversa matinal sobre as manchetes de jornal... nem há mais o jornal. Ele ficou amontoando-se na porta a espera de um dono fiel que o lesse, que o segurasse por entre os dedos e manuseasse-o como a um companheiro. Ah... quanta falta sinto das letras regadas ao cheiro impregnante de café...
A casa silenciou-se... não ecoam mais as gargalhadas....a TV nunca mais fora ligada...os móveis tão vistosos escolhidos ‘a dedo’, agora jazem cobertos por uma fina névoa de desilusão...
Mas o pior de tudo... a maior de todas as dores...é quando silenciam-se as palavras...
Não porque se resolveu calar o que está prestes a ser dito. Mas por um motivo maior e mais agravante: não há mais o quê falar... não há mais nada...Nossa história fica limitada a retratos semi desbotados, guardados dentro de uma caixa....Dentro dela também ficaram os sorrisos estampados numa face juvenil, com olhos brilhantes e corações esperançosos... tudo esvaiu-se pouco a pouco... findou-se... caíram os cabelos... embranqueceram-se os fios... o sorriso deixou de ser uma marca...e as palavras...ah...as palavras...elas me fazem tanta falta!