História

Sentir tudo ao mesmo tempo, simultaneamente, pergunto as horas ao meu riso para marcar o tempo de sentir, cumprir o horário das emoções. Onde estão as árvores naquela álea sob o futuro – um dia teremos outras palavras inventadas e compreenderemos o silêncio das imagens, fossemos a descrição de uma história que não pudemos viver. A realidade existe independente de mim,

ou disseste, o mar ficará depois de nós, outros corpos deitados na relva aguardam o poente, o vento terá novas depressões que ninguém sentiu. Nada saberemos nem talvez os nomes que soletraram os nossos lábios agora débeis, que importa a melancolia dos dentes nesta noite quase eterna – desliza pela luz a ilusão de um firmamento,

seremos acordados pelas linhas funestas ao amanhecer,

cumprir o horário das emoções, atravessar o rio do esquecimento em direcção às sombras coloridas, aí, onde se compram as últimas notícias que ensinam a alegria dos outros, aí, a solidão não existe se a felicidade está na próxima descoberta electrodoméstica,

o meu riso filtrado em provetas de náusea.

Disse – a realidade independente de mim, isto é, o areal em que

correm aves indiferentes

ao espelho dos olhos.