NO FIO DO DIA

Esse dia que ainda é nublado, em que se flutua por entre nuvens, no final dele é que você tomba enfim na minha direção...

Muitos foram os dias que meus lábios inadjetivados se encantaram ao ver seus dentes sorrindo no branco do que é indefinível, mas nem por isso menos sábio; contornando o negrito de uma estória que ainda não pingou o ponto certeiro e final.

Houveram muitas lágrimas, mas ainda sem o sal, o condimento do nosso assunto ainda doura numa panela, onde minha pele de canela almeja sua temperatura fervente.

Esse dia intocável, em que meu silêncio falar ao seu ouvido segredos que precisam ser ditos, que meu dizer quase mudo sabe do seu, no qual você cala e consente e pressente que estou chegando no centro do que é definitivo. Onde sempre estive cravada no cetro, perto, mesmo que distante. Esculpida na sua argila, em suas mãos que me dão forma e dedilham o que deve ser tocado e retocado.

Nesse dia de parada, no qual meu exército de livros em marcha desloca todas as palavras suculentas ao seu destino voraz que tudo capta e decifra. Uma Queóps, uma Monalisa, enigmática que espera, mas não revela, mas às vezes devora.

Por todos os anos, no que está sedimentado, encrustrado no subterrâneo, no subsolo, no subcutâneo e que não pode ser denunciado em arrepios...

O chegar desse dia que se deita sobre mim e sabe o gosto do vinho derramado, do sangue bombeado quase saindo aos goles pela boca.

Esse dia será vermelho, despetalado. Será convergente, ereto em seu próprio mastro. Despontará escarlate e tomará gosto por coisas fortes...

Esse dia de pegadas fortes, pisar num coração diluído é trazê-lo pra uma emoção que se arrasta forte, são correntes, elos que nos atam, a paixão toda uma cadeia; onde o ladrão prende sua vítima, e essa mesmo que não algemada, pode, mas não quer fugir!