Intimidade

“sobre a mesa

o cinzeiro

o isqueiro

o champagne

sobre o tapete

nossos corpos

nossos gostos

nosso romance”

Sobre a mesa de cabeceira, escorrego meu quadril, que desliza pelos versos desejosos do cinzeiro manchado de baton. Esse amor inconsciente, incandescente, verte livre entre as veias, corre solto em seus pêlos, incendeia minha boca, faz-me cuspir flores no seu peito.

Meu isqueiro ali inerte, numa espera inanimada de tocar como te faço. Revela. Então me cubro, encho a taça das delícias e desprezo o champagne, que reluz em gotas de chuva fria no seu umbigo que transborda de torpores e sabores, duma primavera de folhas verdes e flores mortas.

Sobre o tapete jaz em mim, o suor dos nossos corpos, a insensatez dos nossos gostos, a tatuagem dos meus dedos em seus cabelos.

Fala baixo!

Deixa que eu grito!

Amo este calor, esse vôo, esse arfar, esse mar que me engole, que me traga e me envolve!

E nessa dança de pardais, pego carona numa estrela, sumo e reapareço, danço em cima da folha seca, me desamarro do teu pescoço

e saio caminhando pela praia com minhas sandálias nas mãos.