Memória em três tempos - II
II. Sempre teve a maldita mania de querer acalentar todo pária que atravessou seu caminho, isso me ofende. Eu, por exemplo, sempre tive disciplina. Aparar o excesso de faísca dá trabalho, mas nada que uma cama macia e mulher para todos os caprichos não possa resolver. E se ainda te parecer pouco, recomenda-se algumas taças anticismação.
Quanto ao coração, manter firme entre quatro estacas, não permito que chateie com a tagarelice dos fracos. E depois quem seria o louco a querer tal nudez! Um espantalho, dispamos à chamas, pena é não sobrar esqueleto para contar sobre as crispações da carne.
Sim, é verdade que velam por ele. Um pensamento solitário (nossa mãe) com sua corja de fantasmas. Habita densa noite, mas é justo por suas chagas que não terá ela, mais que conferir o punhal, já que o traz atravessado no próprio peito.
Ser homem dorido por outro homem: renego o homem com uma dor. Este algo de sentido que em mim desconheço e quando me falam de sutilezas; a dos gênios em gêneros, sou visitado de riso. Não o de rir, mas o de cinismo: macho ou fêmea, são apenas variações do mesmo brinquedo, para o tempo devastar sorrindo.
E não se preocupem com estas crispações em meu irmão, o que nele queima já é cinza e não venham querer proteger as laranjeiras do meu machado. Chegaram tarde, a terra que juntos herdamos, está nua e não permito nenhum arbusto esquálido, onde guardar as memórias de suas formigas.