bolero de janeiro.

Faço mil arranjos, mil versos, boto toda a melodia - ela ainda não me vê. Perdi-me nas partituras? Tenho certa fixação.

Quero mostrar que minha poesia serve para alguma coisa. E ela pode sim servir para alguma coisa. Que se eu pudesse, amarrava uma a uma todas as minhas palavras e fazia delas uma corda enorme para que lhe pudesse raptar. A você, sim! Que me olha com seriedade por trás dessas lentes. Na verdade, que nem me olha por detrás dessas lentes - quiçá a seriedade quisesse dizer alguma coisa. Eu derretia a seriedade com claves de sol e fá e versos simples. Ou até fazia métrica. Fazia até uma ode!

De nada adiantam meus sonetos se ela, afinal, não me olha. Se libriana como é não se conecta aos assuntos mundanos. Nem eu. O que sequer estabelece uma conexão. Nem ouso falar em NÓS. São nós desatados, desastrados.

Eu fico e vou como as estações. Você, em mim, oscila com elas também. Acho que é coisa do verão. Vez ou outra me arrasta até o outono e o sentimento se torna nostálgico, amadurece como as folhas e depois cai.

Ela vem, sempre tem esse mar no olhar... Talvez sejam, mesmo, bobagens de verão. Samba de Verão.