Da Névoa

Pela orla sombreada do dia, quando os espasmos roxos afloram à boca do poente – a luz se apoia no vértice fugidio das sensações últimas, soletro os lábios no vidro da alma e não encontro outro repouso para os olhos, esse instante disperso no areal de outrora,

onde estive naquela noite morrendo ao vento, face no corpo de veias espelhares e bebi o ar ou o limite do mar em teus ombros que não voltam – pudesse na pele lembrar os navios como dedos navegados no meu sangue. E tu de palavras invulgares sob a pátria do sonho,

pela orla sombreada destas árvores, uma estrada em declínio do que não soube ou pude amar - disperso de mim para sempre na hora solitária da denúncia. Soletro a luz à marginal e regressam os instantes da sombra à obscuridade balanceada do poente fugidio,

com a noite,

a vocação incontornável da névoa.