[Bicho Empalhado]

Vida insulsa, sem ânima,

dias brancos, brancos;

imagens fugidias contra

o céu refletido no espelho d'água;

indiferença ao voo das aves migratórias;

andar esquecidamente pelas ruas, sentindo

uma total descompreensão da pressa dos outros;

vontade de nada, nada mesmo...

Pensamentos de morte a cada instante,

sentir-me chegando ao batente de fim-de-linha;

alface lisa sem o sabor da infância;

distância dos jardins da juventude;

desesperança de amar fundada

na quase certeza de que o único amor se perdeu.

Laranjas desenxabidas;

comida apenas como enchimento;

enfim, a libido na sola dos sapatos!

Aviso: esqueça-se até de olhar

para a minha pessoa:

um bicho empalhado

está bem mais vivo que eu!

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[Penas do Desterro, 27 de janeiro de 2009]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 27/01/2009
Reeditado em 22/04/2012
Código do texto: T1407385
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