[Bicho Empalhado]
Vida insulsa, sem ânima,
dias brancos, brancos;
imagens fugidias contra
o céu refletido no espelho d'água;
indiferença ao voo das aves migratórias;
andar esquecidamente pelas ruas, sentindo
uma total descompreensão da pressa dos outros;
vontade de nada, nada mesmo...
Pensamentos de morte a cada instante,
sentir-me chegando ao batente de fim-de-linha;
alface lisa sem o sabor da infância;
distância dos jardins da juventude;
desesperança de amar fundada
na quase certeza de que o único amor se perdeu.
Laranjas desenxabidas;
comida apenas como enchimento;
enfim, a libido na sola dos sapatos!
Aviso: esqueça-se até de olhar
para a minha pessoa:
um bicho empalhado
está bem mais vivo que eu!
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[Penas do Desterro, 27 de janeiro de 2009]