Parecia sincero
Parecia sincero
Parecia sincero, o olhar quase perto, as mãos sempre juntas,
a falta de assunto. O equivocado da desculpa parecia sincero, assim como o desalinho da postura e as falas todas quase sem volteio. Parecia, e deve ter parecido por mais tempo ainda, a autenticidade do lar e o retrato na parede. Agora, se doravante fosse possível mostrar uma pausa acentuada nas próximas palavras, para parecer hesitante ao som da pausa, e soar sincero, como um farol no fim do mundo, como quem se ajoelha para a Deusa da floresta, ou quem pranteia a seco para parecer forte, ou como quem ri à toa para ganhar mais tempo. Seria sugestivo. Teria aproveitado. Afinal, parecia sincero acender uma vela para o tempo fingido. Por mais tempo ainda, teria achado que a sombra era só um reflexo. E quem poderia duvidar que o sorriso ausente era passageiro, e que tudo aquilo, com jeito de certeiro, parecia sincero? Agora, se doravante for permitido simular intimidade com emoções ainda mais distantes, continuarei por mais alguns minutos, sílaba por sílaba, até que pareça escrita.