Era uma vez um amor...
Por onde será que anda você?
em lugares sombrios talvez,
envolto na escuridão, escondido,
acuado pelo doce frescor da melancolia
que como brisa suave lhe toca a face
e o abraça
como um manto eterno,
suavizando o frio mas nunca afastando
a solidão que gela a alma, esfarela os ossos,
arremete teu coração a mim,
à minha lembrança e ao amor que te conservo
puro e brando,
desesperançado amor.
Deixei-o lá atrás, junto com as lembranças
de um passado breve mas feliz,
quando nos permitimos amar sem toque,
sem concretude,
fazendo da distância a única ponte que unia nossas almas
e separava nossos corpos, mas que ainda sim,
nos concedia momentos de sonho em meio a tanta dor.
Será que se lembra de mim?
das juras que te fiz,
que nem eu mesma sentia-me capaz de cumprir?
Todo o tempo cambaleei, temi, retruquei,
em horas tive a ousadia de recuar,
uma trégua em vão, porque meu amor nunca desistiu,
sempre lutou para manter-se vivo á si próprio,
vendo no teu amor o subterfúgio
tão necessário á essa sobrevivência,
um instrumento de paz e desassossego,
o teu amor,
que tempo me parecia intacto,
outro tempo mais era um cristal
em toda sua plenitude de fragilidade.
Verdade agora que nos habita é a única,
deixando de lado o amor sentido ou acabado:
só conseguiremos seguir rumos opostos,
sem dúvidas outroras
no instante em que nossos corpos se tocarem
e redescobrirmos a razão pela qual nunca desistimos um do outro.
Se a razão for constatada,
não há vida ou morte que nos separe.
Se a mesma razão não subsistir,
então viveremos sós e morreremos sozinhos,
ou viveremos e morreremos amados mais sem amar,
surpreendidos por uma peça pregada pelo destino.
Duas almas á vagar eternamente sem par.
Até lá, seguiremos com essa convicção infundada,
que nada mais é que a súplica dos nossos corações
à vida que nos separa:
"chegará o dia em que seremos um só corpo".