Você já dançou com o demônio sob à luz da Lua?

Recebi essa pergunta de um querido amigo que adora me fazer perguntas, e no momento de responder a inspiração me tomou e escrevi...

Não sei se o Demônio esteve presente na dança que dancei: ele me repugna! Mas diante da Lua tão repleta de si mesma, exibindo-se de uma luz que nem emanava de si própria, eu me despi dos trapos que vestia e dancei diante dela com meus demônios interiores mostrando-lhe que mesmo eu presa nesta terra, vivendo do desejo de estar levitando nos ares feito ela, não podia brilhar num céu, mas podia criar minha própria luz.

Um momento que este corpo vil passa, passa imperceptível. Um momento para a alma que insiste mostrar-se presente e real, é uma eternidade com a possibilidade de absorver numa fração de segundos cada detalhe insignificante.

Morremos várias vezes durante a vida... Acordamos várias vezes também. São milhares de portas que abrimos ao longo da existência, e se por detrás de alguma surgir algo incrivelmente satisfatório, é por ali que passamos maior parte de nosso tempo. Todos os cômodos que entramos, nos oferecem nova porta para ser aberta, e sempre haverá o momento em que nos obrigamos abri-la. O sono não é eterno...

Estar acordado é na verdade dormir e entrar num sonho fantasioso e fictício... E durante todas as partes deste tempo também ilusório, estamos entre dormir e despertar. Não será por isso que conseguimos ser tantos em um dia só? Não será essa a causa dessa variação de nosso humor, postura e desejos?

Por que responder? Por que tudo precisa ter uma explicação lógica? Aquele que explica tudo não tenta de certo modo estar certo em algo, ou tenta justificar-se? Em cada linha escrita, quantas vezes eu despertei e voltei a dormir? O agora já é passado e porque explicá-lo ou justificá-lo? Todas as portas, visíveis ou não recebem seus passageiros errantes que modificam suas vidas e o 'Agora' assim que passam por todas elas. Um passo pode mudar uma vida inteira! Uma palavra pode dar um sentido completamente diferente daquilo que se quis dizer...

O que não muda em tudo isso é o fato de sermos o que somos: essa coisa que tentam dar nomes que não a definem, que muda constantemente durante segundos... Nós somos como a Terra que gira, gira, e nossa impressão é que gira lentamente... Parecemos inertes faróis de luz apagada, mas a luz brilha do outro lado...

É inércia debruçar-se sobre o rio e olhar o rio passar? O rio passa, e aquele momento que passa e que o rio com ele passa jamais tornará... Mas ali, naquele pequeno momento que passa, vem, passa e ficam as respostas. A vida é assim como nós de carona com ela, somos um rio passando por baixo de pontes...

Eu penso: jamais erramos! Fomos projetados e constituídos pela Perfeição que não erra, ora não posso errar. Não erro porque opto, mas porque não produz erro o que foi concebido com perfeição. Somos e vamos deixando de ser, acertando e acertando desmanchando-nos e recriando-nos e no fim, não deixamos de ser, mas acrescentamos ao ser...

Hoje, é o resultado de passos certeiros dados no passado... Este momento já era naquele passo que passou e nunca tornará a ser...

Nós... Cebolas Absolutas que não se cansam de despir-se de suas camadas que nunca encontram seu centro... O abismo é profundo...

Então... Dancei diante da Lua exibida que brilhava com uma luz que nem era dela que emanava, me despi dos trapos que vestia e ela iluminou-me como as luzes da ribalta... Eu dancei com meus demônios interiores que conhecem melhor este meu centro de abismos profundos onde eu mesma não posso chegar... E cometi o erro certo de copular com todos eles, diante daquela Lua exibida e mostrar que posso criar minha própria luz.

São Paulo, 22 de Janeiro de 2009.

Obs: Este texto foi postado como Ensaio por nunca ter escrito algo assim, e por realmente não saber como classificar este texto.

Considerando Fábio Melo não somente crítico, escritor e poeta, mas também mestre, e utilizando-me sempre de suas criticas bem esclarecidas para meu aprendizado, modifico a classificação para Prosa Poética e sigo suas orientações abaixo, fazendo leitura do poema Haxixe de Baudelaire para aprofundar-me ainda mais na distinção dos textos.

Ps: Eu realmente havia me esquecido que uma Prosa não tem que ser necessariamente em quadras, versos e rimas.

Shimada Coelho A Alma Nua
Enviado por Shimada Coelho A Alma Nua em 23/01/2009
Reeditado em 04/08/2009
Código do texto: T1399677
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