O NASCIMENTO DO POETA

O poeta nasce de um sopro efêmero.

De um pulsar imprevisto da alma.

Nasce de uma inquietação que não se esvaece com as horas e nem tão pouco sucumbe à fadiga da labuta.

Sua inspiração emerge dos pequenos detalhes. Estes fragmentados em momentos aparentemente imperceptíveis, mas ricos e eternos quando entregues à tinta, pena e papel. Pois para o poeta sua sensibilidade reluz se umedece o olhar, mas torna-se eterna apenas, se transformada em linhas.

O poeta alimenta-se de antigos amores. De novos amores. Amores tardios. Perdidos. Inacabados. Amores intransferíveis. Inabaláveis. Fugazes.

Alimenta-se de migalhas de sentimentos encontrados pelo caminho. De restos revirados em corações alheios. Pedaços que outrora formava um todo absoluto. Alimenta-se dos contos melancólicos e fúnebres da despedida. Do cheiro úmido do campo. Do sol. Da lua. Da natureza. Das folhas soltas da juventude. Das inconseqüências da mocidade. Do círculo de fogo do materialismo. E da parede intransponível da velhice.

O poeta aprecia a solidão. O abraço. A dor. A alegria. A Justiça e a injustiça. A burguesia e a miséria. A luxúria. O sorriso falso na boca do palhaço. A boemia. O absinto. A sedução. Aprecia os segundos que antecedem a conquista. Os traços marcantes da paixão. Inala constantemente o cheiro indescritível da madrugada e respira em seus versos a elegância do dia.

Não se prende ao racional. É romântico. Transpira romantismo. E é averso às regras que lhe retraem de não poder expressá-lo da mesma forma como lhe chegou.

O poeta chora as dores do parto ao ver sua obra findada. Concluída. Lida. Absorvida. Criticada. Perpetuada. E deleita-se de um brio intenso. Quase à beira da soberba. Não menos egocêntrico que seu orgulho retraído. Mas um êxtase inefável de realização.

Todo poeta tem sua forma particular de escrita. De mostrar como vêem o mundo. Alguns preferem o sopro aveludado das canções. Outros a seqüência alegre das rimas do cordel. Alguns as perfeições da norma culta. A elegância dos proparoxítonos. Outros os quartetos e tercetos dos sonetos. Mas o importante é que, indiretamente, todos incentivam e percebem a diversificação como uma constante necessidade de se evoluir. De criar. De transmitir idéias e emoções de maneiras distintas. Porque todo poeta é um reflexo de si mesmo. Porém, paradoxalmente, uma encarnação involuntária de outro.

E assim viajam pelos séculos. Deixando pegadas. Riquezas. Tesouros intrínsecos doados aos homens como uma colaboração natural e gratuita à arte e à cultura. Uma benção de Deus à humanidade.