[Em Torno de Mim]
[Que terra, que país...]
Em torno de mim, sempre haverá espaço-tempo
para este mundo gritar e crescer, encher o meu visor —
este mundo em que eu existo
só pode crescer em torno de mim — nada mais óbvio —
não é o teu mundo nem o dele, é o meu!
Eu, entre muros de pedras caiadas de branco,
estou neste mundo, mas este mundo que entra-me
olhos adentro, narinas a dentro, boca adentro,
nunca, nunca poderá estar em mim —
este é um fato meramente corriqueiro!
Estranhamente, não há cães nas ruas deste mundo:
olho em volta e vejo que esta é uma terra sem cães;
mas, nas ruas há vermes crescendo na podridão,
há políticos, juízes, cafetinas e prostitutas;
há pregadores vendendo paraísos implausíveis,
larápios considerados mortos voltando à ativa -,
gente que desce alegremente os círculos do inferno!
Que ironia! Como viver numa terra como esta,
em que os cães [e até os abutres] desertaram?
Ah, que falta fazem os cães a este mundo!
E para o meu espanto, o desalento dos meus braços,
este mundo cresce todos os dias, sem parar, sem parar,
diante dos meus olhos cansados, muito cansados...
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[Penas do Desterro, 19 de janeiro de 2009]