O PERCEBIMENTO DA LEMBRANÇA
I
Nasci numa pequena cidade
perdida num ponto do mapa
envolta no ostracismo
até para mim mesmo ignoro-a
como todos as habitantes dela
se é que para mim existem
cresceu na vida uma senda
óctuplo nos olhos mortos tristes
sem me ocupar do perfume das flores
que nascem por lá.
II
A pequena cidade adquire
sobre si própria um sentido de intimidade
segredo, segurança, real ou imaginária
pelas experiências apropriadas do próprio espaço
suas ruas, corredores, casas, praças, parques
nomeadas com os costume locais
sentidas, assombradas em seus mistérios
como prisão mágica e emocional
processadas com o tempo habitual
da população de lá
de começo a muito tempo
ao fim dos tempos
quase ficcional e imaginativa
em um tempo diferente, mais lento
a espreita de uma distância
entre o que está próximo a ela e longe de mim
sentimento que muitas vezes tenho
de que estaria estado mais na cidade
num outro século dissipada a norma
do que sabia agora sobre o tempo no mundo
seu passado, seu presente, seu futuro
totalmente sem um significado.
III
Quando parti, muito jovem, queria ficar
despedida com certa simpatia e lágrimas
ao amor do primeiro encontro
procurando numerosos pontos de contato
em atração possuidora de
particular afeto primitivo inconformado
recusava qualquer civilidade ante ao dilema
ter que escolher entre o que era
realmente primitivo e o que era realmente evoluído
compenetrando aspectos negativos a jornada
martelando a terra com o galope dos cascos
rapidez para ganhar o mundo
fugir do sentimento da lembrança
sonhar com o esplendor em conquistas
lançar-me como fecha para um alvo
invisível e exterior.
IV
Por vezes um sentimento desagradável
invade e deixa-me combativo e trêmulo
com prazer-se com o furacão
força a manobrar contra o vento
somente conhecer uma regra de vida
amável e infeliz, cultuando mil
prejuízos em desejos de viagens:
saudade que deixa-se transformar em tristeza.
V
longe de rebelar-se contra a cidade
suprimindo pouco a pouco
forças reservadas em si e não pequenas
comandar todo o trajeto da viagem
proferir a solidão aos ajuntamentos
não partir por partir
partir sim afim de encontrar
ofício de viajar para sempre logo
o mais depressa, mover-se
tendo o dom inato do deslocamento
da orientação como se em casa estivesse
indagando ao espírito qual o poder de sua força
no céu encontrar o contato com o maravilhoso
nas artes perceber a existência de Deus
aos poucos entrar em harmonia com o Ser Supremo
na acuidade do sentimento de percepção ativo
dotando-se com o espírito curioso a mente e a alma
quero ver paisagem monumento
alimentando constantemente a alma
embelezando a vida e seus silêncios
cultuar a nostalgia do que não viveu
quando rufando o coração em desalento
renascer no ciciar ressonante de uma orquestra
com apenas um Músico e um Maestro.