33 ANOS À ESPERA DA PAZ
Em que jornal sairá a notícia que espero?
Penas que contam penas, apenas.
Onde estará a fraternidade?
Biafra, Vietname, Cambodja, Crise do Oriente Médio.
Seria o ideal a volta à Natureza, ideologia hippie a solução?
Abro o jornal e encaro problemas. Não encontro soluções.
O mundo gira insuportavelmente carregando um fardo de misérias. E as pragas assolam o mundo.
Ai, criancinhas famintas!
Gostaria de ser mais otimista.
Mas como posso esquecê-lo?
"He is my brother. Is my brother."
O mundo delira em febre de paixões egoístas. Ora é o ariano perfeito, ora é o assalto na esquina e a prostituta.
"Era um garoto que, como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones" que morreu em Israel.
Nem sempre conseguimos resolver nossos próprios problemas, que são tão pequenos, como resolver tantos e tão grandes dum mundo enorme?
O jornal mancha de negro minhas mãos, num reflexo das negras realidades que ele tem a informar.
A Estátua da Liberdade tem o braço direito cansado, e a chama vai se apagando porque o combustível está em crise.
"O que vocês fizeram?! Malditos!" (Planeta dos Macacos.)
A pomba da paz hoje está extinta porque matam também animais. Como despertará das próprias cinzas, como a Fênix grega, se nem suas cinzas repousam? Elas voam dispersas nos ares, numa explosão atômica.
Talvez seja mais fácil ressuscitar como uma ave negra por cima dos portais, e nesse dia alguém a ouvir dizer: "Nunca mais!"
Meu filho, você não vai nascer para que eu continue em si. Não hoje. Só quando os sinos baterem felizes em todas as torres do mundo. Não hoje, nos funerais cambodjanos.
Mentira! Mentira!
Você precisa nascer para que eu o ensine a amar e lutar pela paz. Eu preciso continuar em você. Porque é meu dever não esmorecer. Não devo cansar nunca, pois também posso ajudar. Ainda vale a pena viver e esperar a notícia nos jornais. Mesmo que eu só a leia em você, ou nos meus netos, ou bisnetos, ou tataranetos.
Um dia a manchete será:
ENFIM ALCANÇAMOS A PAZ UNIVERSAL!
(25/4/75)