Dissimulando

Quantas palavras digo, vãs, talvez sejam

Se não remete nem um pouco de retorno

Talvez lhe sirva apenas de sublime adorno

Sem ter por paga, nada, nem sequer o pejo

Poeta tolo, talvez seja quando digo

Na volúpia o quanto te quero tanto

Mas escusado é dizer que cai o pranto

Quando me chamas nomeando-me: Amigo

Faz que não vês, o deleite de minh'alma

Quando te vejo a flutuar em minha frente

Ouço o sino que avisa tua chegada

E me acelera o coração tão de repente

Por vezes várias, lhe envio mil palavras

Que não recebem a resposta mais correta

Sempre tu, a dissimular minhas cantadas

Sempre fugindo-me, de maneira tão esperta

Eu temeroso por afastar-te de repente

Fico a dar tom de eufemismo em minha fala

Mas me corrói por dentro a vontade

E uma voz louca de gritar, mas que se cala

Ai, quando irás abrir os olhos de oceano

E me dizer em verdade se já sabes

Que eu te quero, mas me faço de covarde

Pra não perdê-la e não mais tê-la em minhas tardes.