Geografia
Quando vamos escrever queremos fixar
a beleza áurea de um instante. Consulto a geografia dos lábios para navegar sobre a água das sílabas.
O que importa? O cenário que o corpo envolve, o corpo seduzido nas estradas da sensação. Entrego os dedos ao seu destino, os navios longínquos ancorados numa luz vaga, soubesse imputar à sombra da página a denúncia de uma ideia. A denúncia.
Porque o real é a ficção. Como agora. Neste dia.
A pretexto do mar invento a paisagem, incitar a névoa ou a hesitação a narrar um momento. Levar às folhas o sentido que apreendo do mundo em metáforas, não saber mais que o olhar, o caos íntimo de quem perde os nomes nos corredores do silêncio.
Ainda: o instante como única verdade insidiosa, ser impossível ler se não sentir a câmara das pálpebras debitar as imagens perfeitas do vidro.
Denuncio-me: incapaz de inscrever os abismos do corpo.