VALOR DA POESIA

Foi um tempo que de tão longe, talvez da era do bonde, dizia se existir poesia. Dizia que as mulheres eram respeitadas, mas também eram enganadas. Mais diziam que havia poesia...que os homens eram corteses, não só com a mulher amada.

As mulheres não votavam, covardia, mas pariam filhos homens que diziam representá-las.

Mais diziam que havia poesia...que as mulheres se cobriam mais e ainda que desejadas, sutilmente eram abordadas.

Não conheci esse tempo, mas sinto saudade daquilo que não vivi. Ah, o bonde...aberto para o mundo, pequeno, sem pressa, sem atropelos.

Reconheço que a mulher ganhou espaços, mercados, o mundo ! Mas perdeu as serenatas, as rosas roubadas, o assobio debaixo da janela. Reconheço que a mulher não aceita mais ser traída, nem é mais permitido matar por amor. O tempo passou, o tempo mudou.

Foi um tempo que não vivi, mas que me permitiu ser hoje a mulher que sou. Mas desejaria que a gentileza, a cordialidade, o romantismo, o lirismo, o beijo roubado, voltasse a ser como antes. Reconheço que ganhamos tanto e que tanto perdemos !

Hoje tudo é banalizado, inclusive o amor.

Tudo é feito ás pressas, inclusive o sexo.

A gente corre o dia todo, atrás do nada!

Sinto saudades dos luais que eram feitos sob o céu estrelado na Bahia...frutas, música, vozes, violão, amores. Uma nota musical eu só posso recordar...dó !

Tenho dó do que deixamos para trás, para corrermos atrás do nada.Num fingimento constrangedor de felicidade, as baladas correm nas noitadas.

Dia seguinte, hora da terapia, consultórios cheios de gente vazia.

Quem sabe a gente reaprenda o valor da poesia, da gentileza, da cordialidade, do romantismo...quem sabe, um dia.

15/02/2005