O GAIATO DOS CÉUS
O aviãozinho cruza os céus com o seu ronco monomotor. Preso ao corpo que flana, com uma sensualidade de causar inveja aos veranistas, conduz uma faixa publicitária que mais parece um rabo de pandorga. Estou sem óculos e não consigo entender o que ela precisamente diz. Como hoje não houve jornais porque faltou energia elétrica em toda a região, o ingênuo coração imaginou que alguém estava comemorando a paz entre israelenses e palestinos. Havia mais de quarenta anos, a guerra acesa fazia descrédito da vida em terra, mar e ar. Mesmo com óculos nunca entendi de mísseis. Tudo porque os coveiros espaciais não falam a pacífica linguagem dos céus.
– Do LIVRO DOS AFETOS, 2005/2009.
http://recantodasletras.uol.com.br/prosapoetica/1380713