em sampa

estilhaços de mim

vagam pela cidade em névoa

em espaços alterados

de quartos-crescentes hotéis

sonambúlica vertigem

que me leva a caminhar pelas alamedas

cinzas de risos febris de enamorados tatuados

em um primeiro encontro

onde um coração desenhado

bate mais do que um orgânico sentir

cada memória plantada

em algum objeto-lembrança

de uma dança entre copos

no teatro oficina

tomando goles de si mesma

e vencendo a tarde em ruínas

eu revejo a aurora prateada

de todos os momentos

e pestanejo liquidez nos trânsitos

inusitados dos traunsentes insólidos

se deleito abençoar os tinos descompassos

que me assomam

freio a vastidão de sentidos

que tramitam minhas frenéticas asas

eu imagino habitar certa-mente

um mundo de um eu bem logrado

distante vaga-lume transitando

estes grafites que falam em silêncio

nos passos apressados e cafés efusivos

dos que aguardam o avesso do dia

vejo nas vidraças o livro diletante

dos recitais embriagados

e me permito as sobras da garoa

que se contorcem entre a poluição

e meus ouvidos alimentam a idéia

de música nas buzinas enfurecidas

no sobretudo o frio

encontra evasivas ritmando os passos

encantada, percebo uma busca

um retrato em sorriso de duas mãos

transpassadas elas dialogam com o tempo

em anéis de saturno

são retalhos, estilhaços

que me negam uma face em ecos

ventura de ânsias

e complexos labirintos que se afirmam

que me atropelam em espasmos e sonhos

o peito cru

paris, 2009

Iva Tai
Enviado por Iva Tai em 11/01/2009
Código do texto: T1379978
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