‘’Sou talvez a visão que alguém sonhou
Alguém que veio ao mundo prá me ver
E que nunca na vida me encontrou’’ Florbela Espanca
Vislumbre– Giselle Sato
Solidão. Horas mortas, sinos batendo o tempo perdido, desencontrado. Já fui mais suave, hoje sou sombra, caminhando por becos, me esgueirando para não ser vista. Oculta em dores e perdas. Porque a vida me levou ao precipício e não me trouxe o alívio. Lamento compondo rabiscos. Será possível uma existência em amarguras sem um único acalanto?
Talvez tenha nascido errada, desde a concepção condenada a não ser mais que um arremedo de gente. Sinto mais e sofro imensamente, a sensibilidade me transformou em poeta. E verso em preto e branco. A ausência do que não consigo explicar, em busca de alguma coisa que falta em um mundo que não pertenço. Saudades do que me completa, ausência sentida, desconhecida e incoerente.
Quem pode dizer que estou certa ou errada? Quem me apontaria o dedo em riste, acusando de amar demais, sentir demais e ser uma alma perdida. Sina dos loucos, abrigo dos desesperados, versos malfadados, portais do desespero e agonia. Devoro meus pecados deliciada, o fel escorre qual sangue pestilento. Sou intensa demais, incompreendida, temida, apontada nas ruas: lá vai a mórbida, a infeliz e transtornada. Minha sede de viver é mesclada em dores, medos, desencontros e engodos. Fé. Não conheço nem faz parte de mim. Nada ou ninguém me pertence. Existe um buraco imenso e nele carrego as tristezas do mundo. Sigo adiante, não sinto saudade nem tenho porque voltar.
***
‘’Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
Não vivo sozinha porque gosto e sim porque aprendi a ser só’’... Florbela Espanca.