Os Filtros da Luz
"Filtrar o sentido para entender."
(Bernardo Soares)
E havia o vento para mergulhar as páginas, o mar havia numa linha, o mármore do areal na impaciência da noite
e um círculo projectando o olhar visível de um ombro, sobre a água rente à lucidez. Na descrição obsessiva a quem desce pelo varandim do real,
a quem sabe contemplar o arco dos lábios e adivinhar os signos. Fosse o silêncio mais eloquente que os dedos, os dedos,
a boca bebesse os lagos ancorados quando as pálpebras. Porque não soube outras palavras ou imagens que dizer mais que as pétalas do rosto,
o teu corpo, o sangue no conúbio das veias, aqueles símbolos habitados enquanto a berma das sombras, longas as avenidas
do que escrevo. Escrevo. Paredes indecifráveis como a emergência dos espelhos onde se renova o sentido e as suas margens. Escrevo.
Os filtros da luz.