Tempo

O tempo já não me leva junto.

O meu ritmo é suave.

Não atropelo as horas, não tropeço nas escadas.

Sigo as vias noturnas e o rastro das estrelas.

Do meu tempo, uso e abuso.

Meu coração é aberto.

Acolhe abraços sinceros e pulsa versos.

Meus sonhos não envelhecem.

Nem fogem.

Tenho-os sempre por perto.

Difícil não desamar.

Porque as pessoas são passageiras.

Muitas não retribuem afetos.

Chegam e partem.

Muitas viram poeiras.

E nos transformam em deserto.

Por isso, insisto em preservar

o meu ritmo,

o meu Sol,

a minha Lua.

Brinco de não sofrer.

E nessa brincadeira, perduro.

O meu eu criança nasce todos os dias.

O meu eu poético, não.

Mas, surge. Quando o dia está sorrindo.

Quando a noite espreita o infinito.

Quando o tempo prolonga o caminho.

E quando me permito entrar na sua dança.