Vínculos do (m)ar

Abrem-se avenidas ao olhar, estas avenidas pelo fim da tarde, uma marginal até ao mar, plátanos enunciam a noite e a solidão enevoada no areal.

Vou ficar, vou ficar aqui, ficar com o vento no toque dos lábios, amar o vento e as suas pálpebras.

Não dizer nada, nem ao meu diálogo, não dizer, olhar - apenas.

Escrever para dentro, ler dentro, deslizar os dedos no exterior de mim, deslizar como se houvesse corredores no sangue. E fossem as aves. E fosse o areal as veias. E me perguntassem pelo nome, não haver outro nome ou lábios ou árvores ou noite - dissolução à hora exacta onde passa o vento. Aquela áurea.

Assim:

sem identidade, velando as aves pelas arestas do ar.

Assim: outros esses lábios na vibração da pele, com essas outras aves nos vínculos do mar.

Carlos Frazão
Enviado por Carlos Frazão em 06/01/2009
Reeditado em 16/06/2020
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