"Tablado velado"
Ato I – A transformação (Corpo feminino divagando pelo imaginário cenário – metafísica pura)
Do tablado em taco, madeira solene, piso real onde desfilava cenas tênues e perspicazes torna-se macio, feito de plumas cobertos pela seda.
Autoconduzo-me nesta trama, que de drama se converte em idílio, passeio vaga pela cena, deleitando meus atos em cada ato do corpo imóvel.
Ato II – Direção-Condução (Corpo feminino seduzindo – plano irracional – empirismo essencial)
No alto a luz esconde, o que somente meus olhos vêem: tablado macio, seu corpo nu resvalado pelo meu desejo. Conduzo-me sorrateira, em olhar-te de soslaio, pelas rabeiras da minha sedução: é atração, decerto desejo.
Ato III – Velação (Corpo masculino – desfaçatez erótica – plano da alucinação alheia)
Sobre tablado feito – de plumas e lençol de seda – corpo esculpido está. Rijo esperando-me em leveza. É vil demais te olhar, calada jamais: olha-me, veleja-se em toques sutis, ah descaramento velado. (Corpo masculino falando baixinho) Vem, navegue neste meu mar!
Ato IV – Consumação (Corpo masculino e Corpo feminino – divagação cênica – irracional empirismo – erotismo e alucinação alheia)
Mastro sustentado pela ordenação comandada, únicos tripulantes da nau ventosa. Marola não se controla, explodem e ecoam no mar antes calmo. Voeja calmaria prazerosa, destrona rei deposto, ora que este mar conquistado já está!
Nota:
Ato I: Entende-se pelo plano físico (o tablado comum, feito de Ipê) transformado em plano espiritual (o eterno leito dos amantes); daí o termo “metafísica” (abstração – sutileza na transcendência da ação). Corpo feminino desfila sua nudez imponente, o olhar sorrateiro é o ápice para que tal cena se concretize (tal cena? Sim, a sedução por si só já é uma cena).
Ato II: Empírica, o corpo feminino demonstra que da irracionalidade provém à prova, praticidade nos atos.
Ato III: A Benção da condução nupcial em sua realização integral. A virilidade do corpo masculino atiça e enseja o público, que nada tem de alheio (são complacentes em cada ato). O convite por ele feito é aceito, não somente pela aliciada carne feminina, mas também pelos olhos que perniciosamente vêem.
Ato IV: Todos os atos em plena unicidade. Fundem-se corpos masculino e feminino. Enfim o mar de gozo é conquistado, e todos assistem as marolas nupciais, revoados pelo êxtase oferecido.
Encene sempre esta pequena prosa poética, não há cenário real, apenas imaginário!
Boa cena, colegas!