"Meu olhar, seu desalento!"

Vejo-te assim distante, e dispo-me vigiando seu olhar ao longe: deixo-me nua perante seus olhos pudicos. Meu perfume eriça-te os pêlos, e na longitude do seu toque me insinuo.

Viro-te as costas e mostro-lhe minha nudez tatuada: ninfa desenhada sobre a nuca despida. Semideusa a oferecer-te meu pecado.

Transcendo-me. Transformo-me em vento, e como tal leve e ameno, vôo longe até seu corpo. Disposta atrás de você, sem que sua percepção alerte: abraço-te. Sentes o toque sutil dos meus seios em sua pele, que fervorosa torna-se.

Meus lábios entreabertos tocam-te a pele, deslizam-se desaforadamente.

As minhas mãos lentas e compassivamente buscam-te em carinhos circulares e contínuos. Viro-te a desejar seus lábios. Fito seus olhos, compadecidos diante da imagem da mulher que chamaste. Minha língua tateia seus lábios, umedecendo-os com a saliva lasciva. Beijo-te com a insanidade de Vênus e exploro-te feito Baco embriagado.

Vou da cabeça aos pés explorando-te, e em detalhes minha língua te sente, prova-te o gosto: peito, pele, umbigo, pudor (ah, o seu pudor!).

Do alto me olhas, extasia-se contemplando a boca que te devora! Devagar, fecha-te o olho e sente-me à boca. E contorce demonstrando a exatidão dos meus insanos atos. Deixa-me em tesura plena, rapaz! O teu olhar, visto debaixo, é ainda mais vil, seduz-me eloqüentemente.

Suas mãos sobre meus cabelos desejam carinhos, mas em riste com a cena proposta enerva-se em indução. Ao fazê-lo, deporta-me completamente.

Coloque-me penitente, ajoelhada sobre seus pés, imponente estás! Delira agora, e desregra-me se for capaz! Faça desta arte a sua disciplina, e pinta-me com seu desejo de homem.

Aliciado, meu olhar te procura, vejo-te alto, passível, inebriado pelos beijos dados, pelo toque sutil da língua que brinca, adejado pelo prazer que enseja.

Como transcendido Vento, personifico-me furiosa, enervando minha ira e perdendo a brandura, a complacência.

Vês meu olhar? É ele que o conduzirá ao prazer pleno.

Toda loucura é assistida pela lucidez, neste texto, malicioso leitor, há muita lucidez; o que prevalece é o início de uma situação que, para ser sentida somente à portas fechadas. Fui clara?