Reencontro
Procurei-te
nas curvas do vento,
fugidio e aventureiro,
que espalha e ajunta,
apenas para minar a
expectativa banhada na fé.
Procurei-te
dentro da brisa macia,
que traz a alvorada
coalhada das vozes
sussurradas da natureza
quando acorda, levanta e corre.
Procurei-te
entre os compassos
da palmeira dançante,
arredia e inquieta,
desenhando sombras na areia.
Procurei-te
a passos de caçador errante,
carente de candura,
porém, na melodia da vida
está escrito vã procura.
Procurei-te
pelo óbvio e improvável,
entre o exato e o equívoco,
entre a esperança e a certeza,
entre a saudade e o reencontro.
Procurei-te
na razão e no instinto,
como o cego que tateia
nos rumos da alma vivida,
dentro de recordações
das regiões encantadas.
Cansei. Fatiguei.
Não desisti, contudo;
o desejo ardente me acompanhava
numa obsessão que incitava
a avançar sempre.
Andei vagando solitária,
com solidão companhia,
meu olhar sem retrocesso
à frente mirava e admirava.
Certezas me impeliram a luta obstinada,
incondicional, relembrada,
exacerbada pelos espinhos,
pronta, contudo, para o grito de paz.
Experiências ficaram,
pegadas sangrentas e perfumadas,
sorrisos soluçados e lágrimas doces,
consoladas por luares prometedores.
As noites que se enterraram
nas sedas e nas penumbras,
também clamaram despertares de luz.
Preces desesperadas e exasperadas me acalmaram
em face ao monstruoso infinito lenitivo e
e à misteriosa e imensurável eternidade.
Naquele bendito instante,
em que aprendi a pausar
os passos aflitos e ansiosos,
imersa na maré que me envolveu as entranhas,
silenciei a ouvir meu sentir,
pulsando feito botão entreaberto a desabrochar,
suplicando energia total.
Sou eu este botão sem passado,
sem pavor de conclusões,
que geme sorrindo
e uiva perfumando,
rasgando com sangue caminhos.
Muito tempo te procurei,
um verão frustrado,
invernos desolados,
numa vida de explorador crônico,
perdida entre as gotas do sereno
e o despetalar das primaveras,
no ensaio sonoro das noites enluaradas.
Para te encontrar
não no exterior remoto,
mas mergulhado nos pélagos
que me habitam a essência,
confinado ao casulo
da minha limitação temerosa,
em largos sorrisos
abrindo alas a minha chegada.
Resgatei-te da vida,
que em giros itinerantes
me tonteou e materializou em razão,
mas minhas pegadas esperançadas
continuaram na lida necessária.
Recordei-te instintivamente
d’inesquecíveis vôos,
em terras dantes andadas e ensaiadas,
onde já vivi em harmonia celeste,
missões agarrei e as cumprí
me enveredando pelos jardins florescidos
rememorados no amor perfeito.
E feito flor que não esquece
como é o doce perfumar
e antes mesmo do desabrochar,
impregna a vida de alegria,
desde o profundo do chão
à infinitude dos céus,
FELIZ, muito feliz,
minh’alma exulta,
por se reconhecer uma filha do Pai,
sem jamais esquecer o Seu calor,
independa de quais jardins venha reflorescer!
Santos-SP-08/04/2006