O Distraído

O Distraído

Cai... Cai... Cai a chuva...

Eu me distraio com a chuva, e com as estrelas quando no céu a chuva não está.

A saudade é esquecida quando há chuvas ou estrelas a fazerem companhia.

Já notaram os distraídos? Não sofrem tanto! Não sofrem tanto!

Eu me distraio fazendo versos despreocupados e desocupados, brancos e livres como o vento.

Ah! Quase ia me esquecendo: eu me distraio com o vento, eu me distraio com o vento!

E com a mosca: zum... zum... zum...

E com a menina bonita;

e com o disco e a vitrola e a música e a tv...

Eu me distraio sem saber, eu me distraio sem saber!

Eis uma espécie de louco que se distrai de sua própria distração _ vento sem mapa, navio sem bússola, pedaço vazio de solidão...

Eu amo ser distraído como só eu sei! Eu sou aquele que chega sem ao menos perceber que já chegou!

Mas qual a vantagem de tudo isso? _ Perguntam os senhores ocupados, de maletas trabalhando sempre atentos.

Os senhores não sabem? Não perceberam ainda?

É que o distraído se esquece do objetivo absurdo da vida: a felicidade!

E quando distraído me desocupo da felicidade, posso então dizer que sou, de fato, feliz...

Quem se esquece da felicidade se esquece da infelicidade também.

Já observaram os distraídos? Não sofrem tanto! Não sofrem tanto!

Do livro "Adágios e Pensamentos Particulares".