Fiquei com muita raiva quando li Poliana, a menina do "jogo do contente'.
Talvez o primeiro livro de auto-ajuda que li, muito jovem.
Poliana aprendeu a fazer de todos os maracujás azedos, delicioso suco.
Mas eu não pensava que devesse ser assim.
Para mim, Poliana passou a simbolizar o conformismo estúpido da recusa sistemática em encontrar alternativas.
Revisito Poliana e transformo seu jogo do contente, em jogo do faz de conta.
Aprendi que para descansar, posso fazer de conta.
E já não acho isso tão ruim.
Faço de conta que posso voar e vou até onde você está.
Pressinto que não está bem.
Sopro de sua testa esse franzido de indagações.
Faço de conta que posso curar e invoco todas as forças cósmicas para que mágica luz envolva sua alma em doce paz.
Como posso tudo, você fica curado.
Peço que adormeça e repouse.
Bem que está precisando de um soninho.
Bem que está precisando de um soninho.
Vagueio no ambiente e vejo uma almofada.
Nela repouso e observo.
Quieta como devem ficar os cuidadores.
Faço de conta que você adormeceu e que pude apaziguar-lhe a alma.
Na janela, olho o céu.
Conto as estrelas, perco as contas e conto de novo.
Conto as estrelas, perco as contas e conto de novo.
Faço de conta que posso e vou buscar aquela que teima em piscar.
Ela me queima as mãos, feito gelo seco.
Faço de conta que amanhã, talvez.
Saio de mansinho pois ninguém sabe onde estou.