Minha avó paterna não sabia ler nem escrever.

Descendente de índios, não gostava de cadeiras, só ficava de cócoras.

Nas férias, quando se juntavam os netos, ela contava histórias.

O Pedro Malasartes era o favorito da meninada.

O chão da cozinha da chácara tinha cimento liso encerado com "vermelhão".

Ela cobria o chão com cobertores do tipo  "corta-febre" e ali sentávamos.
 
Ouvíamos, tomávamos chafé melado com açúcar cristal e bolinhos de chuva.

Pedíamos outras histórias e se estivesse frio, melhor ainda.
 
Acho que é por isso que gosto tanto de ler e gosto tanto de histórias.

Acho que é por isso que gosto tanto do frio!
 
Mas eu quero mesmo é falar do fogão a lenha.
 
(parece que eu nunca olho para o lugar certo)
 
Enquanto todos olhavam para a vovó e o Pedro, eu olhava para o fogão, João e Maria.
 
Lembro dele bem grandão, mas já não tenho certeza.

Quando volto para lugares que na infância me pareciam enormes, enxergo tudo pititico!

Sei lá se os fogões encolheram ou fui eu que cresci.
 
Também encerado com vermelhão.

Boca de fogo, dentes de brasa!
 
As poderosas chapas jamais esfriavam e a chaleira estava sempre lá!
 
Com água fervente, prontinha para qualquer precisão.
 
Juntava água na boca ver as carnes defumando sobre o fogão.
 
E no dia seguinte, as cinzas ajudavam, na feitura do sabão.
 
 
(ploft)

29/08/2008