A Sina...
Talvez não tenha o direito de te amar entre a voz deste mero
vazio que verte implacavelmente feroz neste meu silêncio e as
máscaras amargas que sabem tão bem disfarçar as nossas noites
de solidão que ainda têm tanto para sonhar...
A razão dessa sensação que esteve adormecida nos grilhões do tempo, preenchendo as lacunas dos sentimentos é resultado de horas trabalhadas pelo sofrimento, regadas pelas lágrimas de saudades que a faz assim tão profunda como o despertar da própria existência.
Talvez esse sonho que desencadeamos longe do universo nunca
irei alcançar, mas no meu coração você encontrou a sua moradia
depois de derrubar as muralhas da solidão naquela noite de
Verão, virando o fascínio da minha poesia e me acorrentando
com extrema maestria...
Eu fui ao teu encontro vestido pelas vestes da pureza, que vi nos
próprios versos que escreveste e aos quais não resisti a esse sublime
chamado, que foi me seduzindo, envolvendo, possuindo até encontrar o elo que esteve perdido.
Talvez nunca possa te abraçar, te beijar nem te tocar, mas
entre as veias do tempo te alcançarei entre o manto da
escuridão e na incansável carícia do vento, gozando dessa
euforia e paixão causadas por a tua eterna presença que é a
minha mais insaciável sentença...
O que escrevo aqui e ali nada mais é do que eu ouço da tua alma
inquieta, sentindo assoprar-me aos ouvidos, no sussurro do vento ou
pelo canto dos pássaros, o bater das ondas nas rochas caladas e
chocadas por um mar bravio que derrama na praia a força de
suas águas salgadas.
Talvez você não seja aquele que tanto procurei entre as ruínas
deste mundo sofrido e vazio, esse destino tão desejado que no
princípio me fez acreditar na predestinação... Duas vidas
nascidas, mas separadas para mais tarde serem seladas numa só
trilha!...
Pergunte às horas em que o próprio destino conduziu a esse porto final como a responder às nossas vidas a razão desse querer, preenchendo assim o sentido de que nosso conteúdo poderia ocupar a esse vazio, dando a ele os contornos, os esboços que buscamos em nossos sonhos.
Talvez tudo não passe de um simples e lindo sonho, esse sonho
que enfeitiçou a pureza da minha alma e ressuscitou o inteiro
do meu corpo... Uma mera e vera sina proibida, predestinada a
ser para sempre esquecida.
Mais que um sonho, você aqui transpassou a soleira do portal da realidade e traçou com tuas lágrimas o caminho para que alcances o nirvana, vencida a sina proibida que o destino havia desenhado, mas que pela delicadeza da tua poesia conseguiste atingir ao êxtase.
Dueto: Salomé & Hilde