RERITYBA

Essa diminuta parte do meu coração bate.

Percorre suas ruas,

nossa gente e seus falares,

as paisagens e o destino.

É um recanto,

canto dos pássaros,

verde das colinas e das árvores,

colorido dos vestidos e sorrisos,

das moças.

Flores que nascem delicadas em algumas moradas.

Essa diminuta parte do meu ser sente.

Viaja nas lembranças…

Adentra as matas, rios e cachoeiras.

Rememora encontros e transpassa a terceira margem.

Vê sorrisos e estrelas,

na face e no jeito de gente tão simples e festiva.

A passagem dos Jês,

A Rerytiba dos Guarani,

e todos seus extintos sambaquis.

O cantar das francas nos meses de inverno,

e o balé dos golfinhos num encanto,

espaço aberto quase infinito.

Relembra essa diminuta parte do meu ser,

das migrações e apresamentos,

da mortandade de nossos nativos,

cativos fadados ao esquecimento.

Relembra essa diminuta parte do meu ser,

o (re)surgimento dos nossos vilarejos,

na ocupação dos vicentistas, negros, alemães e açoritas.

braços cansados e fé cativa,

que deram vida aos engenhos de Ganchos, Palmas, Piedade

e outros recantos…

Essa diminuta parte do meu ser compreende…

Os erros do passado e exalta a perseverança,

aceita as etnias do hoje, esperança e ponto de partida,

para um eterno retorno.

Essa diminuta parte do meu ser enxerga,

essa cidade esquecida e sofrida em suas mazelas.

Querida, por sua resistência ao progresso.

Em seu levante, em seu protesto quer ser ouvida,

emergida em nossos sonhos e pensamentos,

lembrada e transmitida.

É essa diminuta parte da bela e Santa Catarina:

Ameríndia e européia,

que transborda em mim,

grita em minhas veias,

pede que eu atenda ao chamado,

e siga adiante.

E Ganchos ,

É um barco a vela no oceano.

Redes lançadas e o calor do espírito humano.

É um restinho de vento sul que sopra cantando,

Falando baixinho em quase silêncio.

É luz que lembra, fascina, voa e desconcerta,

que preenche a alma e nos eleva.

Essa diminuta parte de todos nós, gancheiros

Está viva e pulsando dentro de nós.

(*) Ganchos. Nome do município de Governador Celso Ramos até 1967.

(**) Leia-se Rerytiba ou Rerityba, ou ainda Reritiba. Significa ostreiro. Nome atribuído pelos Guarani a essas terras hoje conhecidas como Ganchos e Governador Celso Ramos. Litoral centro-norte de Santa Catarina.

(***) Poesia publicada na obra "Luz lembrada (Jyoti)", 2007, pela editora da Univali. Recitada no II Congresso das Academias de Letras e Associações de escritores de Santa Catarina (outubro de 2008)

William Wollinger Brenuvida
Enviado por William Wollinger Brenuvida em 30/12/2008
Código do texto: T1359596