Ontem fui a uma mercearia perto de casa, na verdade uma "vendinha", ver se encontrava farinha de milho para fazer polenta. E tinha! mais surpresa fiquei. quando o homem me entregou em um saco de papel pardo. Imediatamente meu coração gritou: ei! lembra deles? ... peguei o caderno quando cheguei em casa e fiz estes versos, os quais transcendentalmente dedico aos meus avós: João José e Lucrécia
 
Em sacos de papel pardo
 
Pardacenta não foi minha infância,
mas tinha um pouco de pardo
porque pardos eram os papéis
que me arregalavam os olhos, que me alegravam...
os pacotes que lá em casa chegavam,
eram feitos de papel pardo
os pães "cacetinho" vinham quentinhos,
à tardinha, dentro de um saco de papel pardo
 
Pardas eram as alegrias:
chegou encomenda do Rio
hoje tem merenda: pão de açucar, doce de goiaba
rodas pardas de ciranda no passeio,
correnteza parda após a trovoada,
barquinhos de papel pardo a descer...
 
a cor parda marcou um tempo empardecido
pardo era meu primeiro namorado...
no banco do jardim, escondidos
trocávamos rápidos e leves beijos pardos
e no caderno,segredo em anotações pardas...
 
só tive na infância e pré adolescencia
alegrias pardas, essa era a minha cor preferida
disfarçadas em sacos pardos elas chegavam
embrulhadas...
e guardávamos, os sacos pardos
para outros momentos pardos,
de contentamento, inteiramente  pardos...
 
IMAGEM: Folhas pardas, por Yara Cilin